Engenharia elétrica brasileira nasceu em Itajubá, sul de Minas

Marita Arêas de Souza Tavares

Hoje, 23 de novembro é o Dia Nacional do Engenheiro Eletricista. Porém, poucos sabem que a origem da data está em Minas Gerais. Neste dia, em 1913, ocorreu a inauguração da primeira instituição de ensino brasileira dedicada à formação de engenheiros eletricistas, o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI), que foi federalizado em 1956 e transformado na Escola Federal de Engenharia de Itajubá (Efei) em 1968. Em 2002, passou a ser a Universidade Federal de Itajubá (Unifei).

Um pouco de história – No início do século passado, o ensino de eletrotécnica no país era bastante insipiente, restringindo-se a uma disciplina nos cursos de engenharia civil. Engenheiros eletricistas eram raros – somente alguns profissionais estrangeiros ou brasileiros que completaram seus estudos no exterior.

O itajubense Teodomiro Carneiro Santiago, após se formar em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco de São Paulo, em 1907, assumiu a direção do Colégio de Itajubá. Em 1909, a convite do então presidente do Estado de Minas Gerais, Wenceslau Braz, tomou posse como Secretário do governo mineiro, cargo exercido até o final de 1910, quando retornou a Itajubá, reassumindo sua função de administrador e educador.

Apesar de muito jovem, Theodomiro pressentiu o papel relevante da eletricidade no processo de industrialização mundial, preocupando-se com a grande carência de profissionais e da existência de uma instituição de ensino especializado na área. Consciente do grande potencial hidrelétrico do Brasil, decidiu visitar inúmeras universidades dos Estados Unidos e da Europa, tendo feito contato com os centros educacionais mais desenvolvidos da Alemanha, Suíça, França e Bélgica. Foi neste último país que encontrou o modelo da escola que queria fundar, aliando um expressivo ensino prático ao teórico, no Instituto Montefiore, em Liège; e na Universidade do Trabalho de Charleroi. De lá, trouxe, inclusive, os primeiros professores e laboratórios.

Na  bagagem, levava a clarividência de um predestinado, o otimismo de um idealista e a tenacidade de um inovador. Foi assim que, com muita luta e recursos financeiros próprios e de sua família, criou o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI).

O presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca; e o vice-presidente, Wenceslau Braz, inauguram, em 1913, o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI), pioneiro no ensino da engenharia elétrica no Brasil Foto: Acervo Unifei

Polêmica – Detalhe histórico que não pode deixar de ser citado foi o ocorrido na solenidade de sua inauguração do Instituto. Nos discursos, Theodomiro Santiago e o professor Armand Bertholet, que com apenas um ano no Brasil discursou em português, deveriam divulgar o sistema de ensino idealizado para aquela escola, a ser implantado de acordo com o modelo escolhido entre tantas instituições avaliadas. Theodomiro dizia que os alunos deveriam estar dentro das oficinas, dos laboratórios e nas aulas de campo, não só na academia.

Tudo corria bem até que foi passada a palavra para um representante dos alunos, que falou dos riscos da formação teórica dos cursos então existentes no Brasil. Estava presente o eminente engenheiro Paulo de Frontin, presidente da Comissão de Obras do governo do Estado do Rio de Janeiro, diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil e, como diretor da Escola Politécnica, emitiu um sonoro “não apoiado”.

Theodomiro, procurando manter a calma, explicou a necessidade de inovação no meio acadêmico, ressaltando que, na sua opinião, a superioridade do ensino prático se baseava no resultado da massa de alunos e não em exceções de notáveis como ele, o grande engenheiro Paulo de Frontin. Mas, com a total quebra de protocolo, as discussões prosseguiram cada vez mais acaloradas, com réplicas e tréplicas. Até que Paulo de Frontin deixou intempestivamente o recinto e a solenidade foi encerrada pelo presidente Hermes da Fonseca.

O incidente teve enorme repercussão em todos os jornais do país, tendo sido noticiado como o “o Escândalo de Itajubá”. Porém, o fato acabou dando grande divulgação e notoriedade à nova Escola de Engenharia de Itajubá, que há mais de cem anos, dá ênfase aos princípios defendidos por Theodomiro Santiago, e desde a sua fundação, transformou-se em um marco no ensino da engenharia elétrica no Brasil.

Assim, o Dia Nacional do Engenheiro Eletricista, instituído com a Lei no. 12.074 de 29 de outubro de 2009, é uma homenagem à primeira instituição especializada em Engenharia Elétrica do País, e ao seu fundador, Theodomiro Santiago, que mesmo sendo um advogado, edificou essa grande obra de engenharia, fazendo-se merecedor do título de Dr. Honoris Causa como Engenheiro Eletricista, concedido a ele nas comemorações do centenário da instituição, em 2013.

Marita Arêas de Souza Tavares é engenheira e aluna da turma de 1962 do IEI/Unifei

SME/Assessoria de Comunicação

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