ESG não é filantropia


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Patricia Boson e Virginia Campos – Sociedade Mineira dos Engenheiros

 

ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), a todo momento está em destaque na mídia. Recentemente, foi dada a notícia de que a gestora de recursos BlackRock, uma das grandes responsáveis por tornar ESG conhecido no mundo dos maiores investidores, recuou nessa sua estratégia. Entretanto, a partir de uma leitura mais cuidadosa, verifica-se que tal interpretação não se confirma. Em verdade, em nosso inteligir, trata-se de uma alteração na abordagem do tema de forma mais assertiva. Motivados pela falta de uma regulamentação mais robusta, que alimentou a proliferação, no mundo corporativo, do greenwashing e, pela consciência de que os mercados não podem ter a pretensão de resolver todos os problemas socioambientais sem ônus e sem associar à mudança cultural do modelo em que vivemos, passam a entender o ESG, como “investimentos de transição”.

De fato, interpretações e conclusões equivocadas para uma agenda tão nova e ainda não consolidada advêm de confusões conceituais recorrentes. Renomados ativistas e algumas importantes lideranças empresariais, não raro, costumam confundir ou considerar ESG e filantropia, como se o mesmo conceito, ou, como se ESG fosse modernização do conceito da filantropia.

Com dedicação ao tema, como prática no aperfeiçoamento profissional, aliada à uma atuação, ainda que curta, por ser uma agenda recente, ousamos afirmar: ESG não é filantropia, sequer modernização de práticas filantrópicas. Aqueles que buscam essa semelhança conceitual, a encontram na finalidade, e, desculpem a ousadia, de forma muito simplória, qual seja: ambas aplicam recursos humanos e financeiros a uma causa social ou ambiental. Entretanto, é na execução, portanto, nos meios que os conceitos diferem.


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Pois bem, ESG e filantropia são iniciativas meritórias, ambas convergem para o bem ambiental e social. Não há, assim, competição entre elas, podendo, uma empresa ter em seu portfólio ações de filantropia e, por opção, ter, também, modelo de negócio com base em ESG. Eis aí a grande diferença. A decisão empresarial por uma agenda ESG promove alterações no modelo de negócio, pela necessária visão sistêmica e qualificada de toda a sua cadeia.

Para ficar mais evidente. A filantropia, em regra, é pontual e emergencial. Resulta da decisão de empregar um montante do retorno financeiro do investidor para enfrentar uma emergência social ou ambiental. Um bom exemplo, à título de ilustração, diz respeito ao cenário recente da pandemia do Covid 19, ocasião em que empresários filantropos aplicaram seus retornos financeiros na compra e distribuição de máscaras, oxigênio, equipamentos respiratórios e demais dispositivos para salvar vidas, aliviar dores. Louvável e importante ação. Devemos aplaudir e agradecer. Uma ação movida por uma responsabilidade social, mas que não interfere no modus operandi do negócio e seu resultado financeiro. Filantropia é, assim, o capital que entra para resolver as questões de impacto social e ambiental quando não há expectativa de retorno financeiro. Equivale, portanto, a doação.

ESG, ao contrário, consubstancia um conjunto de ações estratégicas, implica desenvolvimento e incorporação de novas métricas, como a qualidade da governança e os riscos e as oportunidades ambientais e sociais. Essas métricas buscam o entendimento da estratégia empresarial para a temática ambiental e social, como crucial para que o investidor tenha ideia do retorno e dos impactos para seu capital. Ou seja, as ações na agenda ESG são o que lhe asseguram, não só não cair em green ou social washing, passível de punição, como não correr o risco de impedimento do negócio; portanto, perda de valor financeiro, por uma questão socioambiental grave. Em verdade, trata-se da incorporação dos fatores socioambientais ao processo de investimento, o que se tornou um imperativo no mercado. Adotar práticas ambientais, sociais e de governança com o objetivo de aumentar valor, gerar retorno financeiro competitivo para o investidor.

As abordagens para a filantropia e ESG podem ser resumidas pelos conceitos responsável e o sustentável. Se a filantropia é resultado de uma inspiração responsável, ESG, além de resultar de uma inspiração responsável, objetiva a sustentabilidade, visando o aumento de valor do negócio.


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