Foto: Professor Nilo Oliveira próximo ao vulcão Quilotoa, no Equador
Desenvolver um conceito de projeto-piloto para que a Lagoa da Pampulha seja um modelo mundial de recuperação ambiental. A ideia é defendida pelo professor-doutor Nilo de Oliveira Nascimento, titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG. Para isso, seria necessário unir o conhecimento acadêmico, recursos públicos e a experiência do Terceiro Setor em um esforço único, exemplar. “Creio que o poder público deveria avaliar essa possibilidade, inclusive o governo federal. Temos especialistas em diferentes áreas do conhecimento para uma gestão eficaz, com governança e tecnologia aplicada, àquele complexo hidrológico. Há profissionais e pesquisas nas áreas de Ciências Biológicas, Engenharia, Arquitetura e Regulação Urbana, além das Ciências Sociais e Humanas, só para citar algumas”, explica.
Nascimento integrou Grupo de Trabalho instituído para avaliar as estratégias e alternativas de tratamento das águas da Lagoa da Pampulha. O GT reuniu representantes da Prefeitura de Belo Horizonte e da COPASA, e contou com assessoramento técnico da Fundação Christiano Ottoni, no âmbito do contrato firmado entre a UFMG e a Secretaria de Obras e Infraestrutura da PBH (SMOBI). “Os problemas de poluição de águas no Brasil são graves e temos outras bacias que poderiam se beneficiar desse esforço, já que demandam até hoje grande volume de recursos”, considera.
A ação contribuiu ao realizar um amplo levantamento de informações que permitem avaliar tecnologias/experiências bem-sucedidas no mundo e aprofundar a análise de resultados das ações realizadas na Lagoa da Pampulha e na bacia do ribeirão Pampulha, incluindo seus aspectos técnicos e seleção de tecnologias.
Um esforço importante, já que o Complexo Hidrológico da Lagoa da Pampulha é um ambiente fortemente impactado pelas cargas poluentes geradas na região. Ainda há contaminação por esgotos domésticos nos cursos d’água afluentes, em especial os córregos Sarandi, Ressaca e Água Funda, bem como por cargas orgânicas, de metais pesados e de hidrocarbonetos de origem difusa muito significativas nos meses chuvosos do ano.
Outro grave problema é o assoreamento, devido a intensificação da ocupação urbana e de áreas industriais na bacia hidrográfica. O reservatório é da década de 1930, mas a condição se agravou a partir da década de 70 e atingindo seu ápice na década de 90, quando o aporte de sedimentos atingiu cerca de 380.000 m³ por ano, provocando uma redução de aproximadamente de 50% do volume da Lagoa, que passou de 18 milhões para cerca de 9 milhões de m³. Atualmente, encontra-se em licitação um contrato para a revitalização da Lagoa da Pampulha, através da execução de serviços de desassoreamento, utilizando de escavadeiras embarcadas. Esse contrato será finalizado em 2024, com previsão de dragagem de cerca de 385 milhões de m³.
Foto: Professor da UFMG representa o Brasil em agendas internacionais
Trabalho precisa continuar
Conforme os diagnósticos realizados pelo Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha (PROPAM), e avaliados pelos estudos realizados pelo GT, a contaminação das águas superficiais por lançamentos de esgotos sanitários figura entre as principais fontes de poluição hídrica da bacia da Pampulha. A solução deste problema passa pela ampliação da coleta, e da interceptação dos esgotos, pela COPASA. A empresa é a concessionária desses serviços públicos nos municípios de Belo Horizonte e Contagem.
O Grupo de Trabalho constatou, por meio de informações disponibilizadas pela equipe da SMOBI e através das reuniões realizadas com seus integrantes, que boa parte das ações recomendadas à recuperação da lagoa foram ou estão sendo implementadas. A não implementação de algumas ações relacionadas ao monitoramento deu-se por limitações contratuais atualmente existentes e poderão ser solucionadas nos próximos anos.
Os especialistas recomendam ainda ações complementares ao esforço já feito, como continuar a análise de dados de monitoramento de qualidade de água dos afluentes realizado por diferentes agências, com o objetivo de avaliar a eficácia da coleta e da interceptação de esgotos. Sugere ainda ajustes nas aplicações de Phoslock frente a potenciais aumentos da carga de fósforo na lagoa, para que a qualidade da água possa ser controlada mesmo na ocorrência de eventos isolados.
Foto: Professor Nilo leva alunos para aulas ao ar livre na Pampulha
E reforça à necessidade de aprimoramento dos procedimentos de controle de qualidade de dados na realização das análises laboratoriais do monitoramento, inclusive com fornecimento, pela COPASA, de relatórios técnicos contendo quantitativos da ampliação da infraestrutura de coleta e interceptação de esgotos sanitários e industriais na bacia da Lagoa da Pampulha. “A lagoa da Pampulha é um patrimônio do cotidiano da cidade, além do selo da UNESCO como Patrimônio Mundial. A governança desse complexo hidrológico é fundamental para essa boa convivência. Vejo com entusiasmo esse esforço de gestão, e o reconhecimento da SME como amicus curiae na auditoria operacional conduzida pelo Tribunal de Contas do Estado”, avalia o professor Nilo Nascimento.
Veja na matéria da News 16
Visita da SME
Foto: Visita da SME à Lagoa da Pampulha
No dia 4 de julho, uma delegação com associados da SME e representantes de entidades de defesa da Pampulha participou de uma visita guiada pela lagoa. O roteiro, que inclui a navegação sobre trechos do espelho d’água, ocorreu sob a orientação dos engenheiros Ana Paula Fernandes e Hamilton Latorre, ambos servidores da Diretoria de Gestão de Águas Urbanas (DGAU), da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte – SMOBI.
Na oportunidade foi possível verificar in loco os resultados dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do “Programa Pampulha Viva”, iniciado em 2016, e que inclui o monitoramento e o tratamento das águas da Lagoa da Pampulha, realizados de segunda à sexta-feira, e a limpeza do espelho d’água, que ocorre diariamente, inclusive aos domingos. “Os servidores da PBH nos informaram que o monitoramento da água da lagoa é feito por meio de 14 estações. São coletadas amostras de água em três níveis distintos de profundidade, com a análise de 27 parâmetros para cada nível”, explica Maria de Lourdes Pereira dos Santos, engenheira de Minas e Geóloga e diretora da SME.
A manutenção do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, outorgado pela UNESCO ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em 2016, foi condicionada a recomendações como a despoluição da Lagoa, com o devido tratamento dos efluentes e resíduos, além da recuperação e da preservação de obras e monumentos arquitetônicos situados na orla da Lagoa, como a Igreja de São Francisco, a Casa do Baile e o Museu de Arte da Pampulha. Os dados obtidos a partir do monitoramento das águas levaram a UNESCO a reconhecer, em documento oficial, que as ações efetivadas pela prefeitura de BH geraram resultados satisfatórios para a periodicidade do monitoramento ativo fosse alterado. Antes era feito anualmente, agora será feito a cada seis anos.
De acordo com Maria de Lourdes, a visita permitiu uma visão mais próxima das ações realizadas pelo esforço institucional, que envolve a prefeitura de Belo Horizonte e Contagem e da Copasa, além de parceiros e consultores técnicos, como os professores da UFMG. “Por ocasião da visita, constatamos que o espelho d’água da Lagoa da Pampulha apresenta boa aparência, com diferentes níveis de transparência, ausência de algas e de maus odores, além de uma diversidade importante da fauna que habita a região, notadamente as aves. Observamos também ações relevantes para a manutenção das atuais condições”, pontua Maria de Lourdes, e continua. “Mais uma vez vimos a importância da aplicação de uma engenharia de qualidade, com o uso efetivo de tecnologias adequadas, para a obtenção de resultados exitosos”, finaliza.
Foto: Visita da SME à Lagoa da Pampulha