Reciclagem de resíduos veiculares é engenharia de baixo carbono

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (SEDE) irá apresentar à Sociedade Mineira de Engenheiros a visão do governo acerca da regulamentação da lei 23.592, de 2020. A lei dispõe sobre o Programa de Reciclagem de Resíduos Veiculares (PRRV) e pretende contribuir com a geração de empregos e a melhoria das condições ambientais, por meio da redução do consumo de combustíveis e da emissão de gases poluentes. A agenda com a SME, prevista é resultado de articulação liderada pelo vice-presidente de relações institucionais da entidade, Wilson Leal.

Em junho, a SME realizou o Seminário Reciclagem e Sustentabilidade na Indústria Automobilística, com a participação da Japan International Cooperation Agency (JICA) e de representantes da SEDE, Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM) e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).  O seminário também contou com representantes da Associação dos Lojistas do Comércio, Recuperação, Reciclagem, Ferros velhos e Recolhimento de peças automotivas de Minas Gerais (ADLEX), que reúne 280 micros e pequenas empresas formalmente registradas no estado. O nome ADLEX é oriundo do latim e significa junto à lei.

Para Leal, a regulamentação da lei garante sua aplicação na prática e contribui para que veículos obsoletos com mais de 20 anos ou abandonados sejam objeto de reciclagem atendendo a demanda por matéria-prima, uma restrição do setor.  “O PRRV incentiva o desmonte legal, criando um processo de controle do manejo dos resíduos sólidos pelos fabricantes para tratamento ou reaproveitamento do veículo automotor”, aponta Leal.

A SME identifica e apoia a causa da reciclagem veicular como elo relevante da Economia Circular. Ao final do seminário, foi elaborado um documento com as principais demandas e sugestões para avanços econômicos, ambientais e sociais, como geração de postos de trabalho. Entre elas, a necessidade de melhor articulação para um processo sistêmico e ambientalmente correto atrelado à reciclagem de veículos. Segundo o documento, o Brasil precisa desenvolver ações para mitigar os impactos ambientais originados pelo rápido crescimento industrial e tecnológico vivenciado nas últimas décadas. Isso porque a atividade de reciclagem ambientalmente correta de veículos pode contribuir de forma significativa para atingir as metas de descarbonização impostas por órgãos internacionais e permitir a redução do consumo de energia associado à fabricação de novos veículos.

De forma indireta, esta atividade pode contribuir para aumentar a renovação das frotas circulantes de veículos e dinamizar a economia do país, incentivando o investimento das montadoras no país. “Esse modelo exige a criação de um maior número de empresas dedicadas à coleta, distribuição e reciclagem de materiais provenientes dos veículos reciclados. Isso permitirá desenvolver uma nova área econômica no país e assim alavancar a criação de novos postos de trabalho, além de desenvolver tecnologias que podem ser exportadas para outros países”, alerta Wilson Leal.  Atualmente, poucos países, como o Japão, têm investido de forma adequada neste setor econômico.

Engenharia de Baixo Carbono

A mobilização está alinhada à criação do Centro de Referência para as Engenharias de Baixo Carbono. O processo evolui com a estruturação de um comitê gestor, composto pela SME e empresas e instituições convidadas que cuidarão do planejamento da estratégia e das atividades do centro. Pela SME, os trabalhos à constituição do centro estarão sob responsabilidade do engenheiro químico e de materiais Renato Ciminelli. Associado da SME, Ciminelli possui assento no Conselho de Engenheiros para Transição Energética (CEET), um grupo de 50 engenheiros globais de assessoramento ao Secretário Geral da ONU.

De acordo com Wilson Leal, a SME mantém frentes importantes de diálogo com governos e com a sociedade, buscando sempre reconhecer a contribuição de profissionais da engenharia à melhoria de processos e produtos. “A SME mostra protagonismo ao reunir stakeholders da cadeia produtiva do desmonte de veículos. O governo de MG vê grandes potencialidades nessa frente sustentável”, diz.

Leal destaca, no entanto, alguns desafios para avanços efetivos. Entre eles, a necessidade de se identificar as empresas do setor de desmontes quanto ao credenciamento no Detran, e melhorar a fiscalização junto as não credenciadas, visto que os desmontes alimentam os estoques do restante da cadeia. Esse ajuste implicaria em maior arrecadação de impostos municipais e estaduais, já que ainda há grande informalidade nesse segmento.

Vantagens ambientais

No Brasil ainda não existe um processo sistêmico de reciclagem, há somente o desmanche de alguns veículos provenientes de leilões públicos e privados. Isso no mercado formal. O problema é que grande parte dos materiais desmontados são descartados de forma indiscriminada, contribuindo significativamente para a contaminação ambiental. Por vezes, carros inteiros são abandonados ao tempo.

Se o Brasil reciclasse 2 milhões de veículos por ano, o que corresponde à taxa média de países desenvolvidos, seria possível obter os seguintes resultados, considerando somente as vantagens relacionadas à reciclagem do aço dos veículos:

  • Poupar energia equivalente a 1,4 da Usina de Itaipu
  • Gerar 2,15 milhões de créditos de carbono ao ano.
  • Economizar 120 milhões de toneladas de recursos naturais ao ano

Belo Horizonte conta com um Centro Internacional de Reciclagem de Automóveis, criado em 2019. O CIRA foi construído através de uma parceria internacional entre o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e o governo do Japão, através da agência japonesa. O centro, localizado no Campus II do CEFET-MG, possui tecnologia de ponta fornecida para o desmonte e reciclagem completa de veículos em fim de vida útil. A tecnologia aplicada permite o aproveitamento de 90% dos materiais, que corresponde ao mesmo índice obtido nos processos de reciclagem de veículos no Japão.

Para o fundador do CIRA, professor Daniel Enrique Castro, é urgente ampliar o campo de ação dos atuais modelos produtivos para a economia circular. “Com ela, são criadas etapas adicionais a partir do fim de vida útil dos produtos, como sua coleta e transporte até centros de desmontagem e posterior separação dos diferentes materiais que devem ser reciclados para reutilização na fabricação de novos produtos. Esse fluxo contribui para a geração de novos empregos e um modelo de crescimento econômico sustentável para as novas gerações”, explica Castro.

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