Diretor-geral do ONS prevê custo da energia elétrica menor em 2022, mas não faz previsão sobre bandeiras

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, fez uma previsão otimista para o custo da energia elétrica a ser gerada ao longo deste ano no país. Com os reservatórios das hidrelétricas da região Centro-Oeste/Sudeste operando com 60,3% de sua capacidade de armazenamento, ele prevê a geração de energia a um custo “muito menor” que o de 2021.

Porém, não quis fazer previsões sobre bandeiras tarifárias, por ser esta uma atribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), não do ONS. Ciocchi foi um dos participantes do seminário “O desafio da segurança energética”, promovido nesta quarta pela Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) e pelo jornal “Diário do Comércio”.

Segundo ele, o cenário atual mais favorável é o resultado da combinação das medidas para a redução do uso da água na geração de energia, como o uso maior das térmicas, e da melhoria dos índices pluviométricos ocorrida no verão deste ano. Para ilustrar seu otimismo, ele lembrou que, desde abril de 2013, os reservatórios da região Centro-Oeste/ Sudeste, responsáveis pela produção de aproximadamente a metade da energia hidrelétrica do país, não chegavam a 60%.

O diretor-geral do ONS prevê, para os próximos quatro anos, pequenas alterações na matriz elétrica brasileira, com uma ligeira redução, de 62,5% para 57,4% da participação da geração hídrica. Já a participação das fontes de energia solar e eólica na matriz elétrica deverá aumentar. A solar passará de 2,7% para 4,9%; a eólica, de 11,9% para 13,8%. “A hidráulica vai continuar predominando e vai ser por um bom tempo”, ressaltou Luiz Carlos Ciocchi.

O presidente-executivo da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrange), Flávio Antônio Neiva, também defendeu a diversificação da matriz elétrica brasileira. Porém, para que o sistema integrado tenha um funcionamento estável, o ideal, segundo ele, é a combinação da geração hidráulica com a térmica, ainda que esta seja de custo mais alto. Isto porque, como explicou Neiva, apenas estes dois tipos de geração permitem, além da oferta de energia, que se faça o controle de carga e frequência, a recomposição pós-distúrbios, o controle de tensão e o atendimento à ponta.

Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) e da SME, defendeu que o país volte a investir maciçamente na geração de energia hidrelétrica, modelo que nos últimos anos sofreu críticas pesadas dos ambientalistas devido ao alagamento de áreas que seriam de preservação ambiental, como ocorreu na usina de Belo Monte, que sofreu redução substancial de seu reservatório e, consequentemente, de sua capacidade de geração. “Ninguém é contra o meio ambiente, mas não podemos aceitar que os ambientalistas travem a construção de usinas. É preciso sair da inércia e promover um amplo debate sobre o tema”, afirmou Aloísio Vasconcelos. Segundo ele, há projetos prontos para a construção de sete usinas no rio Tapajós e de seis no rio Tocantins.

Comercialização

O presidente-executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Rodrigo Ferreira, defendeu mudanças no modelo de comercialização da energia elétrica produzida no país, de tal forma que consumidores de menor porte possam também participar do Mercado Livre de Energia, hoje restrito aos consumidores de grande porte, especialmente os do setor industrial.

Em volume de energia, o Mercado Livre responde por 35% da energia elétrica consumida no país. Porém, em relação ao número de consumidores, representa apenas 0,029% do total. Para ele, entre as vantagens dessa forma de comercialização de energia está o seu menor custo decorrente da competição entre os agentes. Segundo Rodrigo Ferreira, o custo da energia no Mercado Livre foi inferior em 25% ao da variação medida pelo IPCA. Para os demais consumidores o aumento médio da energia foi de 137% da inflação medida, ou seja, maior do que a inflação.

O deputado estadual Gil Pereira, presidente da Comissão Extraordinária das Energias Renováveis e dos Recursos Hídricos da Assembleia Legislativa de Minas, destacou o avanço dos projetos de geração solar na região Norte de Minas e manifestou sua expectativa de que tais projetos avancem em função da construção recente, pelo governo do Estado, de 80 subestações, e da promessa de construção de mais 120 a partir de 2023. As subestações, juntamente com as linhas de transmissão, são fundamentais para o escoamento da energia proveniente da geração solar, condição necessária para que os projetos de geração solar em implantação no norte do Estado se viabilizem.

José da Costa Carvalho Neto, ex-presidente da Eletrobrás e também da SME, considera que, na produção de energia elétrica, o Brasil está bem em sustentabilidade e segurança. Porém, está em posição pior em relação do preço da energia elétrica oferecida aos consumidores. Ele propõe que seja estudado um novo modelo de formação de preços que seja baseada na oferta e na demanda e não apenas em modelos matemáticos, como é hoje. José da Costa defendeu também a abertura do Mercado Livre de Energia a outros grupos de consumidores, como os de média tensão e até os de baixa tensão.

Incentivo à inovação

Para o presidente do Conselho Deliberativo da SME, Carlos Augusto Leite Brandão, a questão financeira é um componente da segurança energética que não pode ser ignorado. Como exemplo, ele citou a recente aprovação, pela Aneel, de uma operação de crédito de R$ 10,5 bilhões para as Distribuidoras de energia cobrirem o rombo gerado pela crise hidro-energética do ano passado. O crédito será financiado por um grupo de bancos públicos e privados. O pagamento será feito por meio de bandeira adicional que virá embutida nas tarifas de energia durante 54 meses, com início em 2023.

Brandão considera fundamental que o setor elétrico busque novos cenários que não sejam a repetição de cenários de crise, como os vividos no passado recente e que geram custos financeiros para o consumidor. Por isso, entende que a segurança energética passa pelo empreendedor novo, por aquele que tem opções tecnológicas e financeiras novas, que produz algum tipo de competição nova para o mercado e que pode bancar riscos, variável que, no entender do presidente do Conselho Deliberativo da SME, necessariamente não está sendo levada em consideração ao se fazer o planejamento do setor elétrico no país.

Para a presidente da SME, Virgínia Campos, o acesso a uma energia confiável, sustentável, moderna e a preço acessível é imprescindível para o desenvolvimento do país e o bem-estar da sociedade. Nesse cenário, o papel da engenharia é, segundo ela, de grande importância para que esse objetivo seja atingido. “Acreditamos que essa energia somente é obtida de forma permanente, e no longo prazo, por meio de uma engenharia de qualidade concebida a praticada com o exercício de um incessante canal de escuta junto à sociedade, recebendo o retorno das organizações e representações e indicando necessidades, prioridades e tendências”, afirmou Virgínia Campos.

A jornalista Adriana Mulls, presidente do “Diário do Comércio”, esteve presente ao evento e destacou a importância da agenda do Movimento Minas 2032 , cujo objetivo é propor a discussão sobre um modelo de produção que seja duradouro, inclusivo e sustentável; e de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ODS).

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