Ensino da Engenharia pede revisão e engajamento


Davina Marcia Sousa Braga é engenheira civil e vice-presidente Técnica da SME

O número de ingressantes nos cursos de Engenharia no Brasil teve uma queda significativa após 2014. Na rede privada, a entrada caiu pela metade. A evasão também é preocupante. Mais de 50% dos universitários não concluem o curso.

Diante desse cenário de perdas, algumas faculdades privadas de engenharia estão fechando suas portas e decretando falência. A Engenharia perdeu seu atrativo. Na década de 1990, figurava entre os cursos mais concorridos nas universidades públicas. Hoje, cursos de Psicologia, Design ou Cinema são mais concorridos em algumas instituições superiores. Em algumas faculdades, há menos candidatos do que vagas para cursos de Engenharia.

Como um país vai entrar na nova onda de industrialização mundial, com digitalização da indústria, inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, sem engenheiros na quantidade necessária? Além de estarmos formando poucos engenheiros, os cursos estão com currículos desatualizados e projetos de pesquisa sem nenhuma interação com as necessidades da indústria. Percebo ainda o despreparo de docentes.

No Brasil, pesquisas como a “Educa Insights” apontam dados interessantes. De acordo com o levantamento, mais de 60% dos estudantes e gestores acadêmicos acreditam que preparam e estão preparados para exercer as suas profissões. Em contrapartida, apenas 39% dos líderes empresariais confiam que o preparo é adequado. A mesma pesquisa aponta que sete entre dez líderes empresariais veem a oferta de disciplinas muito distante do que o mercado de trabalho precisa.

Outro ponto é a questão do ensino técnico. Países como Finlândia e Alemanha formam metade de seus alunos com ensino médio e técnico conjuntamente. No Brasil, apenas um estudante entre dez se forma com essa competência. A falta de técnicos e engenheiros é notória no Brasil. Parques tecnológicos, em qualquer região do Brasil, têm centenas de vagas em aberto. As empresas buscam engenheiros e técnicos com formações específicas e não encontram.

Temos uma missão hercúlea de motivar nossos jovens pelas engenharias e carreiras técnicas e de forma urgente e contundente!


Foto: Davina após palestra no CEFET/MG

E como motivar nossos jovens?

Há diretrizes fundamentais para uma mudança no cenário da Engenharia no Brasil. Cito algumas de valor e relevância.

Conforme livro Educação na Engenharia: as competências na formação do engenheiro, de Adriana Maria Tonini, membro do Conselho Deliberativo da SME, deve-se alterar urgentemente a forma de ensinar. A aprendizagem deve ser um processo ativo e interativo, no qual os estudantes são agentes ativos na construção do conhecimento. De acordo com a autora, eles não têm interesse em ser meros receptores passivos de informações. Querem ser participantes ativos no processo. Ao se envolverem em atividades práticas, colaborativas e reflexivas, têm a oportunidade de aplicar o que aprenderam, desenvolver habilidades e expandir sua compreensão.

O processo de ensino e aprendizagem não se limita a um único formato, pois pode ocorrer por meio de aulas expositivas e dialogadas, discussões em grupo, projetos práticos, atividades experimentais e diversas outras abordagens pedagógicas. Cada método tem seu papel e é importante que o professor utilize uma variedade de estratégias para atender às necessidades e estilos de aprendizagem dos estudantes.

O processo de ensino e aprendizagem também está estreitamente ligado ao desenvolvimento de competências socioemocionais. Além do conhecimento acadêmico, é essencial cultivar competências como comunicação, colaboração, pensamento crítico, resolução de problemas e empatias. Essas competências são fundamentais para a vida pessoal, profissional e cidadã dos estudantes.

Nesse contexto, a tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante no processo de ensino e aprendizagem. Além de aguçar o interesse, pode ampliar o acesso ao conhecimento, promover a interação e colaboração e proporcionar experiências de aprendizagem envolventes e personalizadas.

No entanto, é fundamental que sua utilização seja intencional e bem planejada, com foco no aprimoramento do processo educacional. Deve-se ter em mente também os aspectos relacionados à multidisciplinaridade, visando à criação de um ambiente propício à integração dos saberes e conhecimentos aplicados em problemas e situações.

Outro ponto que destaco é o engajamento. Motivar nossas crianças desde o Ensino Fundamental, mostrando a importância da Engenharia no mundo. Demonstrar que boa parte de nossa rotina envolve princípios elementares da Engenharia, como a moradia, a energia, o transporte, acesso a alimentos e água potável, equipamentos médicos que salvam vidas, dentre outras diversas necessidades do ser humano.

Precisamos revelar, enfim, que a Engenharia não é apenas “o estudo da matemática” que, de certa forma, ainda assusta alguns estudantes. A Engenharia, sim, é a ciência que transforma e nos qualifica como seres em constante evolução.

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