Se fosse seguir o curso normal da meritocracia em um país como o Brasil, a engenheira civil Alaize Elizabeth Reis não teria chegado onde chegou. Oriunda de família pobre – o pai era pedreiro –, ela fez sua formação, no Fundamental e Médio, em escola pública, em Nova Lima, onde morava. Com tudo isso, ela ainda escolheu um curso – engenharia civil – em que os homens eram ampla maioria. E ainda são.
Para fazer a faculdade, ela cumpria um trajeto de cerca de cerca de 80 quilômetros todo dia, para ir de Nova Lima a Venda Nova, na região Norte de Belo Horizonte, onde ficava a Faculdade de Engenharia Kennedy, onde formou-se, em 2002. Por tudo isso, a história de Alaize Reis tinha tudo para ser diferente do que é – um ponto fora da curva. Mas não é. Depois de formada, ela entrou firme na profissão, especializando-se em projetos comerciais, particularmente shopping centers. Ela assegura que em Minas não existe um shopping do qual não tenha participado, em algum momento, de seu projeto ou construção.
Mas essa não é a única faceta de Alaize Reis. Ela é também militante de um movimento que visa valorizar, ao mesmo tempo, a engenharia e a mulher que trabalha com a engenharia. Alaíze Reis é a fundadora do Instituto Feminino de Engenharia (IFE), uma instituição não-governamental que, em dois anos, conseguiu atrair três mil associadas e realizou, recentemente, em Belo Horizonte, o 1º Congresso Nacional das Mulheres Engenheiras.
Militância – Ela conta que seu gosto pelo trabalho de natureza mais política, em defesa da engenharia e da mulher, começou ainda na faculdade, quando fez parte do diretório acadêmico de seu curso. Já estabelecida na profissão, ela integrou o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), do qual desligou-se para buscar outra alternativa que desse vazão a esse seu lado militante. A partir de 2016, começou a fazer reuniões com colegas de profissão para definir qual seria o melhor caminho. Em 2017, o grupo decidiu criar o IFE, que passou a ter existência legal em 2018.
Para ela, o IFE veio no momento ideal de sua trajetória. Por ser uma profissional mais madura, ela afirma que consegue ter uma interação tanto com os mais jovens quanto com profissionais que, igual a ela, estão atuando há mais tempo. “O IFE veio na minha maturidade”, reforça Alaize Reis, que cita alguns números para ilustrar a trejetória ascendente da presença da mulher na engenharia. Quando se formou, em 2002, as mulheres representavam 6% do universo total de engenheiros. Hoje, esse percentual é de aproximadamente 20%. A previsão de Alaíze Reis, com base no número de mulheres que estão matriculadas hoje nos curso de engenharia, é de que esse percentual chegue à metade em cerca de três anos.
Porém, sua intenção, ao criar o IFE, não foi a de instituir uma disputa entre homens e mulheres no cenário da engenharia, de forma a, numa descrição muito rudimentar, expulsar os homens para que as mulheres possam tomar os lugares por eles ocupados. A ideia de Alaize Reis é de que o trabalho pela valorização da mulher na profissão faça parte de um cenário mais amplo. Nele, o objetivo é valorizar, antes de mais nada, a engenharia, de forma que a mostrar a profissão está mais presente no cotidiano das pessoas do que elas pensam.
“Nossa qualidade de vida é, toda ela, oriunda de soluções da engenharia”, afirma a presidente do IFE. Para ela, as pessoas perderam a percepção dessa presença em seu cotidiano. Em parte, no seu entender, por culpa dos próprios engenheiros, que passaram a se dedicar mais às questões particulares de cada um.
O resultado dessa realidade pode, de acordo com Alaize Reis, ser traduzido em números. Hoje, se considerarmos a realidade apenas de Minas, um Estado com um desenvolvimento econômico e tecnológico elevado, há cerca de 18 engenheiros para cada grupo de cem mil habitantes, número inferior em um quarto ao padrão internacional recomendado, que é de 24 por cem mil.
Em paralelo – Nesse cenário, ela projeta a valorização da mulher engenheira ocorrendo paralelamente ao crescimento da percepção do cidadão sobre a importância da profissão, cujas novas referências passam hoje, segundo a presidente do IFE, menos pelo emprego de carteira assinada e mais por ações como desenvolvimento de projetos de cidades inteligentes, implantação do Marco Legal do Saneamento, da internet 5G e da disseminação de startups pelo país afora.
“Vejo tantas possibilidades que fico triste quanto vejo um engenheiro dizendo que está desempregado. Tecnologia, inovação, tudo isso faz parte da engenharia. Isso é o que vai fazer a sociedade enxergar o profissional da engenharia como necessário para a sua qualidade de vida”. Nesse cenário é que, segundo Alaize Reis, insere-se o IFE, cujo objetivo é fazer com a que a mulher descubra essas potencialidades e se destaque. “O Instituto nasceu para fazer esse link, para trazer a visão da inclusão da engenharia na sociedade, mas trazendo as mulheres como foco. Com isso trazemos inspiração para o empoderamento feminino”, resume Alaíze Reis.
SME/Assessoria de Comunicação