Família de Raul Cirne com palestrantes e membros da SME
O evento em celebração à trajetória de Raul de Lagos Cirne contou com um momento especial: “Vozes da Homenagem”, reuniu relatos e reflexões de profissionais que conviveram com Raul Cirne ou foram profundamente inspirados por sua obra e sua presença. Os jornalistas Mannu Meg e Rafael Alves, do Estado de Minas, apresentaram a palestra “A Inspiração para uma Reportagem”. Os repórteres explicaram que o arquiteto foi personagem central de uma das matérias da série de matérias especiais “Sabia não, uai”, que revela de um jeito dinâmico e descontraído fatos e casos quase esquecidos de Minas Gerais.
Jornalistas do Estado de Minas em palestra
O material tem linguagem multimídia e é veiculado em redes sociais, no site e na edição impressa do jornal. O destaque, no entanto, é apuração do conteúdo que tem como ponto de partida acervos do Estado de Minas, com conteúdos disponíveis desde 1928, a revista O Cruzeiro, que circulou entre 1928 e 1975, o jornal Diário da Tarde, de 1931-2007 e ainda vídeos publicados na TV Itacolomi. “Encontramos Raul Cirne em um arquivo do jornal que destacava em uma manchete um projeto para a construção de um distrito industrial na Rua Sapucaí, no bairro Floresta. Como não reconhecemos nenhuma obra daquela grandeza ali, decidimos investigar. Havia uma foto do arquiteto apresentando a ideia para a equipe do Estado de Minas à época”, explicou Rafael Alves
O projeto do distrito não vingou, e a equipe resolveu contar aquela história com o apoio dos familiares do arquiteto. “O filho e o neto dele não conheciam o projeto, mas descobrimos outras obras importantes de Raul Cirne. Fizemos uma grande maquete para ilustrar como seria aquela obra faraônica e destacamos outras importantes contribuições dele para a identidade de BH. Tivemos a dimensão da obra, mesmo que em parte, e de tudo que ele representa para a arquitetura”, disse Mannu Meg.
Patrícia Boson e Virgínia Campos idealizaram o evento
Inspiração para a homenagem
A reportagem integrou a quarta temporada da série e foi lida pela coordenadora da Comissão Técnica de Recursos Hídricos e Saneamento da SME, Patrícia Boson, que resgatou dela uma memória afetiva. O pai dela era amigo de Raul Cirne. O arquiteto projetou uma casa de campo para a família e a engenheira viu naquela notícia uma grande oportunidade de valorizar ainda mais a obra e o legado daquele mestre um tanto desconhecido. Em suas pesquisas, encontrou a professora Alcília Afonso.
Doutora em Projetos Arquitetônicos pela ETSAB/ UPC na Espanha e professora do Mestrado em História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a docente veio mais uma vez à Belo Horizonte. Desta vez para exaltar em uma palestra saborosa o legado do mestre mineiro. Desde 2013, a docente desenvolve pesquisas sobre a atuação de Raul de Lagos Cirne no nordeste brasileiro. Professora do Mestrado em História da Universidade Federal do Piauí (UFPI), ela mostrou como projetos do engenheiro arquiteto ajudaram a mudar paisagem urbana de cidades como Belo Horizonte, Teresina (PI), Campina Grande e João Pessoa (PB).
Professora Alcília deu uma aula sobre os feitos de Raul Cirne
A plateia conheceu então o gigantesco acervo de um autor incansável que fez estádios, clubes, hospitais, bancos, hotéis e residências Brasil afora. “A gente tem que investigar estudar, resgatar, publicar, socializar e educar esse público jovem que não imagina a grandeza desse profissional. Eu acho que a UFMG e outras instituições precisam mergulhar mais no resgate de Raul Cirne”, provocou ela.
Alcília fez questão de compartilhar com todos a palestra que fez, parte de um bem apurado trabalho de pesquisa científica realizado na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.
Link da apresentação da Professora Doutura Alcília
https://drive.google.com/file/d/1mJRRmQLu1H-tHrjJ3fRhbYCchV1fHyVe/view?usp=drive_link
Alberto Dávila é autor do projeto de revitalização do prédio da SME
Alberto Dávila, sócio do escritório Dávila Arquitetura, falou sobre “Engenharia e Arquitetura como expressão de técnica e arte”. Uma aula sobre Raul Cirne e tudo o que ele construiu. Logo na abertura, mostrou a gentileza de suas palavras. “Esta homenagem não é apenas um reconhecimento de seu valor profissional, mas um testemunho sincero e carinhoso do impacto duradouro que seu trabalho deixou em nossas paisagens urbanas e em nossos corações”.
Dávila disse em sua palestra que a formação de Raul Cirne como engenheiro arquiteto, pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1951, “colocou-o no epicentro de uma transformação cultural e urbana sem precedentes”. E reforçou: “Naqueles anos dourados, Belo Horizonte experimentava uma profunda modernização, impulsionada por figuras visionárias como Juscelino Kubitschek, que, como prefeito, foi decisivo para a implantação definitiva da modernidade na capital mineira”, ensinou Dávila.
O escritório Dávila Arquitetura fez, de forma voluntária, o projeto de revitalização da sede da SME. Trata-se de um projeto conceitual que valoriza uma edificação emblemática da engenharia mineira, marcada pelo traço de Raul de Lagos Cirne. “Ele foi concebido com o propósito de destacar não apenas o patrimônio físico da SME, mas também reafirmar a indissociável ligação entre engenharia e cultura – um princípio que orienta a atual gestão da entidade. São dimensões que se complementam e se fortalecem mutuamente”, celebrou o palestrante.