
A entrega da Medalha SME Maura Menin foi prestigiada pela filha da engenheira que dá nome ao prêmio. Professora de destaque nas duas maiores universidades de Minas Gerais, UFMG e PUC Minas, Ângela Menin Teixeira de Souza agradeceu a reverência e valorizou a presença de uma engenheira e hidróloga, como a mãe, na quinta edição da outorga, em cerimônia realizada na sede da SME, no dia 22 de agosto. “Sinto-me honrada por representar minha família em uma premiação que valoriza o protagonismo feminino. Outro motivo de alegria é ver Alice, que milita na mesma área, ser a homenageada”, disse ela, formada em Engenharia Elétrica e com doutorado em Engenharia Mecânica.
Ângela lembrou, sem citar o nome, de um gestor público decidido a abandonar os dados que eram coletados e armazenados manualmente na época de sua mãe. Um esforço de grande valor e apuro, já que os hidrólogos, engenheiros e técnicos não se valiam de tecnologias disponíveis atualmente, como computadores e equipamentos de medição e georreferenciamento. “São dados elementares que hoje estão em boas mãos sob a gestão de Alice”, celebrou.

A professora, que ajudou a formar turmas de engenheiros para o mercado, valoriza o crescimento da presença feminina na área. A mãe dela foi a terceira mulher a se formar em Engenheira Civil na UFMG, na turma de 1944. Na turma de Ângela foram apenas três. Hoje, a proporção é bem maior e varia conforme a modalidade. Para a docente, a presença deve ser vista com entusiasmo, já que há na sociedade um equilíbrio entre homens e mulheres. A filha de Maura ressalta, no entanto, que o mercado de trabalho precisa dar contribuições mais efetivas. “As oportunidades precisam acompanhar essa evolução”, alerta.
Chanceler da Medalha
A chancele da Medalha 2025 ficou sob responsabilidade da bióloga Cláudia Salles. Em seu discurso, ela destacou a trajetória de Maura Menin, “de atuação notável na área de Hidrologia e Recursos Hídricos, em um período em que tais temas eram considerados secundários. Sua atuação inspirou outras profissionais e consolidou um legado feminino de excelência na engenharia”, disse a gerente de Assuntos Ambientais do IBRAM.
Para Cláudia, a homenageada de 2025 amplia o caminho trilhado por Maura, provando que liderança e excelência técnica não têm gênero. De acordo com a chanceler, a atuação de Alice no Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) evidencia o protagonismo feminino, com grande impacto para o país. “Essas histórias confirmam o que Bell Hooks, renomada feminista negra, escritora, professora e ativista americana, nos ensinou: empoderar não é só ocupar lugares, é transformar estruturas. É garantir que meninas e mulheres não apenas sonhem, mas tenham o direito real a um futuro nas ciências, na tecnologia, na engenharia e na matemática”, destacou ela.
Cláudia apresentou dados importantes em seu pronunciamento: as mulheres ainda são minoria em STEM no Brasil, com apenas 24% da força de trabalho. Para a gestora, esse condição se deve a barreiras históricas como preconceito, estereótipos e desigualdade de oportunidades. E reforçou ali o que Virgínia Campos destacou em seu discurso de abertura: as meninas e mulheres têm as habilidades, o que lhes falta é um ambiente que as encoraje a permanecer e liderar. “Por isso, cada mulher que chega a um cargo de decisão carrega a responsabilidade de puxar outras junto. Representatividade é mais do que presença: é compromisso. É dizer para as próximas gerações que o espaço é delas por direito”, sinalizou Cláudia Salles.

Citação de Prêmio Nobel
Nas palavras da chanceler, o reconhecimento do papel de mulheres como Maura Menin e Alice de Castilho vai além da celebração individual: é um ato político e pedagógico. Não apenas por abrirem caminho, mas por redefinirem padrões de excelência técnica e ética na engenharia. Por fim, citou Bell Hooks, articulando a trajetória delas às ideias da escritora e ativista norte-americana que morreu em 2021. “O empoderamento feminino na engenharia envolve mais do que ocupar espaços. Trata-se de transformar as estruturas, ampliar horizontes e garantir que as futuras gerações possam não apenas ingressar nessas áreas, mas também reinventá-las com pensamento crítico e sensibilidade social”, ensinou.
E finalizou com outra citação, desta vez da cientista polonesa Marie Curie, primeira mulher a receber um Prêmio Nobel: “O caminho para o progresso não é rápido nem fácil. Mas, juntas, estamos pavimentando esse caminho irreversível.”
Fotos: Fábio Batista