Virgínia destaca as contribuições de Raul Cirne aos valores coletivos
Em uma aliança histórica, a Sociedade Mineira de Engenheiros abrigou no dia 1º de julho um encontro memorável. Um momento de celebração da história, da cultura e da arquitetura representado na força construtiva de Raul de Lagos Cirne, autor de importantes obras que marcaram a paisagem urbana de Belo Horizonte, como as sedes da SME e do CREA-MG, entre outras realizações de grande valor simbólico para a capital, como o Othon Palace Hotel. Esses são bem conhecidos, mas a versatilidade e o vigor produtivo do arquiteto e engenheiro, nascido em BH em 04 de agosto de 1928, é ainda maior. E transcende as fronteiras do estado.
Engenheiro arquiteto formado pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1951, Raul Cirne construiu sedes de bancos e empresas, hotéis e residências, hospitais e monumentos, clubes sociais e estádios em outros estados brasileiros, como Piauí e Paraíba.
Tamanha grandeza permitiu uma construção coletiva que uniu, com o mesmo propósito, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (CREA-MG), o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG), o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Belo Horizonte (Codese-BH) e o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG). “O auditório, com tantas autoridades, amigos e familiares, dá a dimensão da grandeza e representatividade de Raul Cirne. O prédio da SME é um entre tantos que ele projetou. Com versatilidade, Raul nos lembra que a arte é um campo de ambiguidades, de perguntas sem respostas únicas, de experiências sensoriais e simbólicas que nos desafiam e nos humanizam”, disse a anfitriã Virgínia Campos na abertura do evento.
A cerimônia representou um gesto de reconhecimento e preservação da memória o mestre. Nas décadas de 1950 e 1960, com o boom da urbanização e uma demanda crescente por projetos inovadores, Raul Cirne se destacou como um profissional capaz de atender o desenvolvimento com excelência e criatividade. “Assim como a Casa da Engenharia, as obras de Raul têm uma identidade. São construções que dialogam com o tempo, a cidade e os valores coletivos. Ele ajudou a construir, material e simbolicamente, a força institucional da engenharia e da arquitetura mineira. Que nossa homenagem contribua para que o legado de Raul Cirne seja ainda mais conhecido, estudado e difundido Brasil afora”, reforçou a presidente.
Virgínia Campos entrega a placa à família de Gustavo Cirne
Coube a Virgínia a entrega de uma placa à família do mestre do brutalismo. O arquiteto Gustavo Moreira de Abreu Cirne, filho do Raul, subiu ao palco com a família e agradeceu o carinho e as homenagens. “Detalhista ao extremo, meu pai fazia a festa de marceneiros, serralheiros e calculistas. Os examinadores das prefeituras nem conferiam as cotas do projeto. Ele fazia perspectivas em aquarela em casa, e trabalhava de domingo a domingo”, contou Gustavo, que foi sócio do pai a partir do ano de 1989.
Meu pai não recusava serviço, disse Gustavo na SME
Gustavo lembrou que Raul Cirne venceu vários concursos de arquitetura, entre eles projetos que resultaram na construção dos prédios do Crea-MG e da SME. Em outro, para um banco, inscreveu duas propostas. E ficou em primeiro e segundo lugar. “Meu pai não recusava serviço. Mas não cobrava por estudos feitos. Se fosse aprovado, enviava então o orçamento. De fato, meu pai ficava muito tempo debruçado sobre projetos. Isso não o impedia de conviver com a família, dar atenção à minha mãe, Marília, e aos filhos”, confessou Gustavo, que tem um irmão economista, Otto. A esposa de Raul Cirne era irmã do engenheiro Gil César, graduado em Engenharia Civil pela Universidade de Minas Gerais (UMG), e construtor do estádio de futebol Mineirão, o Gigante da Pampulha.
Raul Neto, Gustavo, Juliana e Julia Cirne no evento
O filho seguiu a sociedade com o neto de Raul, que leva o mesmo nome do avô. Raul Cirne Neto também agradeceu a acolhida de todos naquela noite afetiva. “Ao homenagear vida e obra do meu avô, estamos reconhecendo edificações que exercem até hoje importante função social. São parte de um tecido urbano que dialoga com a cidade. Símbolos da capital, como o Othon, ou que integram a estrutura urbana com arquitetura atemporal, como a sede do Crea-MG. Essa noite é um gesto de memória e reconhecimento dessa arte como peça-chave da construção de nossa história. Agradeço imensamente a SME e todos seus parceiros por celebrar o grande arquiteto e cidadão Raul de Lagos Cirne”, disse Raul, sob aplausos.