Augusto Drummond, Marcos Gervásio e Virgínia Campos no Crea-MG
Nos anos 1970, o Centro de Estudos de Engenharia (CEE-MG) foi o grande responsável pela formação de um pensamento crítico sobre a prática da engenharia em Minas e no Brasil nos anos 1970. O CEE permitiu uma aliança de profissionais que, articulados, criaram um movimento de renovação no Sindicato dos Engenheiros no Estado de Minas Gerais (SENGE). A mobilização é ponto de partida de uma história de quase 50 anos de dedicação a três importantes entidades de classe: o SENGE, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG) e a Sociedade Mineira de Engenheiros (SME). Uma jornada documentada por um de seus principais protagonistas, que alcançou o posto mais alto em cada uma delas: o engenheiro eletricista Augusto Celso Franco Drummond.
Nestes 46 anos, Drummond guardou um acervo inestimável. São fotos, publicações, documentos, placas comemorativas, registros de campanha, convites e certificados que preservam a memória de quem ajudou a consolidar a representação de cada entidade Neste ano, o ex-presidente do SENGE, do Crea-MG e da SME decidiu que esse patrimônio deveria ser preservado. E doou tudo à autarquia federal, formalizando a entrega em três agendas de trabalho. A última reunião, com a apresentação de alguns registros e bastidores dessa trajetória, ocorreu no dia 25 de setembro. “Eu orientei a minha carreira profissional não apenas para atuar no setor elétrico, mas também para contribuir com as entidades de classe, dando a elas uma visão de maior abrangência social e em defesa dos profissionais e da engenharia”, disse.
Equipes de diferentes áreas acompanharam as reuniões de trabalho
O material será organizado pela divisão de Gestão da Informação do Crea-MG, a pedido do presidente do Crea-MG Marcos Gervásio. “Fico honrado em receber esse material. São documentos importantes de nossa história. Levarei inclusive essa notícia à reunião plenária que realizaremos em Uberaba, no dia 3 de outubro. Tenho 36 anos no exercício da profissão e sei do valor de registros como esse para a engenharia”, disse Gervásio após receber o acervo. As agendas também contaram com a participação de profissionais das áreas de Atendimento, Registro e Acervo e de Comunicação e Relações Institucionais do conselho.
Drummond foi presidente do SENGE entre 1984 e 1987. Anos depois, foi o primeiro presidente eleito do Crea-MG em eleições diretas em Minas Gerais. A gestão foi de 1994 a 1999. Na SME, Drummond ficou na presidência no período de 2014 a 2017. Os documentos registram ainda passagem do engenheiro concursado na CEMIG, onde foi diretor, e também na Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE) e na fundação da ENGECRED, além da atuação na prefeitura de Belo Horizonte, como administrador regional da Pampulha, entre 1989 e 90, e na Câmara Municipal de Belo Horizonte, onde foi vereador em 1991.
Augusto Drummond colou adesivo das Diretas no peito de Tancredo Neves
Diretas Já
O acervo conta com documentos importantes, como a primeira ata de reunião do CEE, realizada em junho de 1978 e o registro de retorno da SME ao prédio próprio, em fevereiro de 2017, após 12 anos. Também há muitas fotos, como a da posse de Drummond no SENGE, em 1984, com a presença do então governador de Minas Gerais Tancredo Neves e do deputado federal Dante de Oliveira. O parlamentar foi o autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 05/1983, que pedia a eleições diretas para presidente.
Houve grande pressão popular para que a emenda fosse aprovada em um movimento conhecido como Diretas Já. Logo na chegada ao Minas Tênis Clube, local da cerimônia de posse, Drummond colou um adesivo no peito de Tancredo. A emenda foi rejeitada, e o mineiro venceu o pleito por eleição indireta. Tancredo, porém, não tomou posse. Após lutar contra problemas de saúde, faleceu em 21 de abril de 1985.
Também há momentos importantes da história do Crea-MG, como a assinatura de protocolo de intenções com o governo de Minas Gerais, em 1996. Na época, a autarquia buscava o fortalecimento da Fiscalização Integrada com órgãos estaduais, como Corpo de Bombeiros Militar, Vigilância Sanitária e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). “Como presidente do Crea-MG, contribui para a adoção de algumas práticas mantidas até hoje, com aprimoramentos importantes, claro. São ações que visam o benefício da sociedade”, reforça Drummond.
Os conselhos são responsáveis por fiscalizar o exercício ético das profissões reguladas pela Lei nº 5.194/1966, a partir da normatização homologada pelo Confea. Nesta função, asseguram que somente pessoas habilitadas exerçam as atividades, protegendo os interesses da categoria e da população. É a partir desta frente de atuação que o Sistema zela pela defesa das pessoas e contribuindo para a qualidade de vida e o desenvolvimento do país.
Drummond narrou bastidores de fatos ocorridos ao longo de suas gestões
Divulgação
O Crea-MG irá catalogar o acervo. Há sinalização para a realização de uma exposição itinerante. O calendário e a estratégia de divulgação serão elaborados pelas equipes de comunicação e documentação do conselho. Como o trabalho de organização envolve técnicas de digitalização e conservação, a mostra deve ser realizada no primeiro semestre do próximo ano.
A SME vai participar da elaboração do projeto. “Esse é um resgate muito importante, porque está alinhado ao nosso propósito de valorizar a cultura à luz da engenharia. Estamos no Circuito Liberdade por essa razão e o acervo guarda parte da memória de entidades representativas. Preservar essa trajetória nos ajuda a planejar o futuro”, disse a presidente da SME Virgínia Campos.